@palivre

quinta-feira, 12 de março de 2009

divagando por aí #4


CORTE DE CUSTOS OU ACERTO DE CONTAS?
imagem de john casey



Quando elas me conhecem superficialmente é um caso de amor. Gostam da minha aparência, do que transmito, da minha simpatia ou beleza, do meu intelecto, das minhas idéias, do meu portfolio ou currículo. Mas depois, quando eu mostro pra que vim, incluindo aí todas as virtudes e defeitos, elas se tocam que sou um elemento altamente perigoso, contaminador, trabalhando sorrateiramente nas lacunas do sistema.

Um agente da contradição a serviço da expressão. Implantando a semente do questionamento, do diálogo, da diferença, das idiossincrasias. Tudo por intermédio delas, as empresas, dos recursos delas, através das estruturas delas, utilizando as entranhas delas, para disseminar os germes da nova era. Eis que minha demissão é concretizada sem mais demora. Afinal, “pra que manter uma peça defeituosa com tantas no estoque de reposição? Vamos trocar.”

Mas eis o engano. Pois não somos peças, objetos, e muito menos máquinas, somos seres. Seres com infinitos potenciais, capacidades ilimitadas e incontáveis habilidades. E dentro de toda a imperfeição também está a perfeição. A qualidade de um ser também inclui os seus defeitos. Qualidade que não pode ser suprida por nenhum outro ser, pois qualquer outro tem outras qualidades.

Os que se dizem chefes, patrões, investidores, acionistas, não têm tempo para pensar nessas coisas. Estão bastante ocupados lendo a capa do jornal. Para eles sou um mero funcionário. Funcionário para eles é número, estatística, cifra no extrato da conta jurídica, linha a mais na folha de pagamento. Funcionário para eles, ou elas, chefes ou empresas, são apenas débitos na conta corrente, nunca créditos.

“E os meus valores?”, o assalariado pergunta. "E a mais-valia, não vale mais aqui?”, o coro dos empresários retruca em oposição. Estão mais interessados em saber do custo-benefício. Mas não sabem que alguns benefícios custam e que certos custos são beneficiadores. "Estou pagando x, mas ele está rendendo y?" A lógica deles determina que os funcionários devam ser controláveis. "Sua função é receber ordens." Mas esquecem a matemática que ensina que todos os seres são apenas variáveis.

Às vezes nem importa a qualidade do trabalho produzido, mas somente a fachada de que é um bom profissional. E isso pode ser feito de muitas formas: sendo pontual, saindo junto de quem trabalha na empresa, almoçando no mesmo lugar, conversando sobre os mesmos assuntos, rindo da mesma piada, ficando após o expediente sem achar ruim, trabalhando fim de semana por livre e espontânea vontade, esquecendo a família pra colocar o trabalho em primeiro lugar.

Existem ene estratégias para se tornar um bom profissional no conceito das empresas. Mas a questão é: de que vale um bom profissional na ausência de um ser humano? Se estamos buscando a artificialização e o processo industrial de produção em larga escala, esquema faz-mais-quanto-mais-melhor-é-isso-aí-a-todo-vapor-não-parem-máquinas-trabalhando-trabalhando, tudo bem. Por outro lado, se queremos uma sociedade mais humanizada, tudo isso precisa ser revisto.

Enfim, apesar de qualquer coisa, penso sinceramente que para tudo isso mudar depende exclusivamente de nós. Tem que ser nós com nós mesmos. Eu comigo mesmo. Você com você mesmo. Porque se não for assim, nada acontece. O tempo é das auto-transformações. A partir de nós, de nossas atitudes e mudanças, é que podemos fazer algo.

As empresas são um conceito morto. Ser admitido ou demitido já não faz mais diferença. Profissionais não amam, amadores sim. É um tempo de paz, amor e células a serviço de interesses universais. Chefes ficam para trás, líderes nos acompanham. O mundo não é um lugar de competição, mas um espaço para uma infinidade de seres que buscam a mesma coisa. Eis a vida.


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