@palivre

quinta-feira, 5 de março de 2009

assim como se nada #8


TALVEZ O SOL QUENTE DO VERÃO
imagem de autor desconhecido



Com uma pá de plástico azul que cabe perfeitamente nas mãos de um bebê eu cavo um buraco sem proporções e me tiro de dentro de uma história enterrada num mundo sem tempo. Com um pregador de madeira bege que carrega uma interrogação de metal em cada um dos seus lados eu me aprisiono completamente a um varal de palavras esticado entre duas montanhas invisíveis. Com uma estrela de plástico laranja que imita as cinco pontas da ostentada pelo xerife adornada por letras ordenadas para formar o nome da polícia eu me encarrego de completar o céu das sete estrelas maiores sob o comando da lei suprema definida pela força decisória irrevogável das três constelações superiores.

Claro que tudo não passou de um sonho. Apesar de muito bem pintado ou acreditado por mim todo esse quadro não passou de um sonho. Ontem eu acordei na praia e encontrei uma pá de plástico azul esquecida entre o mar e a falésia sobre a areia quente de um sol de verão. Hoje eu acordei no caminho para a praia e observando o chão encontrei um pregador de madeira bege dividindo a terra com um sem número de pedras. Caí no sono novamente e me peguei ausente até quando acordei mais adiante e dei de frente com uma estrela de plástico laranja ilustrando um dos paralelepípedos de mais uma das tantas ruas que vão dar na praia.

Talvez o sol quente do verão cause efeitos na praia. Talvez o verão praia do quente cause efeitos no sol. Talvez o quente sol da praia cause efeitos no verão. Causa e efeito. Quem vem antes e depois? Se tudo não passou de um sonho eu não passei também? Claro que todo esse filme não passou de um sonho. Com efeito toda causa teve uma razão de existir e existiu realmente dentro da realidade em que um sonho se propõe a existir. Assim como se encontra uma pá, um pregador e uma estrela.

Este sonho não passou de tudo. Tudo que se passa na vida tem a ver comigo. Tudo que a vida mostra tem a ver com quem sou. Eu sonhei e quis assim. Tudo aconteceu de acordo com quem fui. Também sonhei uns passarinhos que pousavam sobre o mar e ora ou outra mergulhavam como num processo de pesca. Sonhei um peixe que saltava desse mar em minha direção na areia e caía atrás de mim por cima de uma vegetação rasteira de praia. Sonhei que o peixe se debatia e voltava da vegetação em minha direção caindo na areia muito próximo a mim. Sonhei que ele se debatia mais uma vez e voltava para o mar de onde veio.

Não entendo muito bem como e de que os sonhos são feitos. Mas posso afirmar com certeza que eles existem. Disso não tenho mais dúvidas. Quando durmo eles estão lá. Quando eu acordo estão aqui. O que falar dos sonhos? Talvez sejam frutos da imaginação de estar vivo criando formas de acreditar nas próprias criações. Talvez a existência em si não passe mesmo de uma troca de informações inventadas para gerar novas existências imaginadas. Talvez os sonhos não sejam apenas sonhos. Talvez o talvez não seja apenas um talvez.


Nenhum comentário:

Postar um comentário


Creative Commons License