@palivre

sábado, 16 de junho de 2012

conta outra #23


EL ESCRIBA
imagem de christian northeast














Tomando uma água na poça, ele pensou: “Que tal escrever um texto?” Foi em meio a esse contexto que a história começou. E seguiu mesmo assim, pronta e cambaleante, como um aspirante a cavalo, ou a cela de uma prisão. Como um rifle de precisão sem calibre, um colibri esperto por natureza.

Resistente e debochada, era a escrita de si mesma. Com a mesma destreza que se vestia, se calçava. Não passavam perto as pernas daquele lugar. E sentia o ar percorrer os pulmões em brasa. Uma casa de portas abertas para o mar. E quantas ondas percorriam a extensão daquele mar! Quão persistentes e pulsantes ondas!

E dando outro gole de água, ele pensou: “Tudo para desaguar!” Já não lhe saciava a sede beber água, e então, olhando pra todo aquele magnífico cenário paradoxal, disse: “Quem está aqui com tudo isso?”

Um belo e abundante saciar de uma sede insaciável por natureza, inexplicável por descrição. Tão esperta quanto um colibri, tão sem calibre quanto um rifle de precisão. Um tiro certeiro no alvo. “De tanto jogar o jogo, o jogo começa a jogar com você”, ele disse. E elegantemente soltou da boca mais uma nuvem de palavras.


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