PRIMA MATERIA : BLUETECH

Se você estiver deitado no quarto e um som de aparência estranha, vestido de um jeito diferente, nada parecido com o que você costuma ver por aí, bater em sua janela, não pense duas vezes, abra e convide para entrar. Pode ser a visita de Prima Materia, mais uma das fragrâncias cybermusicais criadas por Bluetech, tentando invadir sua casa.
Seja bem vindo a um mundo com milhares de notas coloridas tentando insistentemente passar por milhares de janelas auditivas. Transmutações através de implantes sonoros dinâmicos? Nada é impossível. Abertura de conexões perceptivas, acionamento de ligações cognitivas, amplificação de receptores sensitivos e expansão de mecanismos conscienciais. Até onde um som pode mexer com você, transformar sua vida?
Os efeitos deixados por uma música tão intensa e realmente comprometida com o próprio propósito não podem ser descritos com exatidão, mas sim sentidos. A música está além das palavras. Prima Matéria não tem espaço para letras. E quem precisa de letras, com harmonias e melodias tão bem arranjadas, que de tão bem desenhadas nos envolvem num plano espacial que não cabe em três dimensões?
Bluetech então explora cada mínima aresta que separa cada ínfimo detalhe que diferencia o enigmático do misterioso, o maravilhoso do exuberante, o novo do moderno. Prima Matéria é uma salada abundante de experimentalismos mixados em um jogo sincrônico de formas alinhadas com perfeição e ousadia. Um chillout fantástico, unindo magistralmente sonoridades orgânicas e sintetizadas.

Prima Materia se divide em onze desenhos: Leaving Babylon, Prophetic Sines, Triangle (Retriangulated), Rubicon, Prayer For Rain (Dub Mix), White Magnesia, 7th Phase Dub, Burning Waters, Mezzamorphic, Desperate Ends e Cliffdiving.
Destaque para Triangle (Retriangulated), faixa três, e White Magnesia, faixa seis, composições que vêm para mudar por completo nossa forma de ouvir música. White Magnésia, por exemplo, hipnotiza, com o delay digital sobre piano elétrico e os loops percussivos repetitivos.
Desperate Ends, a penúltima faixa, é outra, que junto com Prophetic Sines, a primeira, merece uma menção especial. Para fechar, Cliffdiving, uma composição singela, singular, muito bem arquitetada para encaminhar o já transformado ouvinte para um belo final de disco.
Fique explícito ou não, a música eletrônica de Bluetech é o empurrãozinho que faltava para entrarmos de vez no terceiro milênio. Dígitos, códigos, botões, senhas e circuitos em função de uma transformação planetária, de uma mudança de paradigma, de uma revolução social: esta é a nova realidade.
Prima Matéria é pura respiração. Quando inspira, absorve o vento do movimento de integração cósmica, e quando expira, sopra o incenso da alquimia eletrodigital que passeia traçando formas espiraladas e reluzentes.
Se você detesta mudanças, evite Prima Materia. Bluetech está fazendo música em nome do tempo que escorre feito água em pedra de cachoeira ou que amolece como relógios em pintura de Dali. Não há como passar incólume. Se depois deste texto você não é mais o mesmo, imagine depois de Prima Materia.
Procure um lugar agradável, coloque o volume no máximo e aproveite a experiência.
White Magnesia // Bluetech
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