@palivre

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

assim como se nada #12


SEJAMOS FRANCOS
imagem de autor desconhecido



A gente pára pra olhar a vida. E o que ela mostra, o que ela diz? “Veja aqui a sorte?” “Vem ser feliz?” Ou a gente não ouve nada, e portanto não sabe que ela diz? A gente pára pra olhar a vida?

Porque se a gente não pára pra olhar a vida, certamente não vamos saber que ela olha pra nós. E vamos seguir mais sozinhos, inseguros, temerosos, vacilantes e errantes, como se a vida fosse algo estranho a nós mesmos. Como se estivéssemos num campo de batalha, diante de uma guerra, ou num beco sujo, escuro e sem saída. O que parece ser uma coisa absurda e impactante demais para não ser percebida. E só quando for percebida, poderá então ser superada, transcendida, transmutada, e o que mais se fizer pertinente.

Vejamos então a vida. A gente pára pra olhar a vida? Veja a vida nos olhando, apreciando a bela obra. Mas não vemos a vida nos olhando. E por não vermos, talvez não estejamos vendo o que ela está dando pra nós. Talvez não estejamos vendo o que ela está fazendo, enquanto o que chamamos de vida é levada a sério, à risca, milimetricamente planejada nos papéis de uma sociedade falida, em um modo de vida que já foi.

O quanto a vida vem pedindo pra ser contemplada, observada, ou simplesmente olhada (no caso de primeiros encontros), com toda sua fluência, naturalidade, espontaneidade e despojamento! O quanto ela vem tentando se fazer perceber como um confluxo multicriativo, um holoprocesso retroalimentado, um transsistema unissincrônico!

Sejamos francos com nós mesmos. Nos reconheçamos ao olharmos no espelho. Reconheçamos essa imagem como a própria vida, em sua mais simples e singela atuação. Prestemos atenção ao que está por trás da capa, atrás da roupa, além da máscara. Sejamos francos com nós mesmos ao nos olharmos no espelho.

Você pode se espelhar no que chama de outro. Mas o espelho é você mesmo. Sejamos francos com nós mesmos e olhemos a vida. A gente pára pra olhar a vida? Se não paramos, pra onde vamos? Pra onde estamos olhando? Se não paramos pra olhar a vida, que sentido faz tudo isso, estas palavras, este momento, esta leitura ou este silêncio?

A vida está aí pra ser olhada, observada, contemplada. E quem sabe assim mostrar um pouco das suas cores, dos seus aromas, sabores, tonalidades e vibrações. A vida acorda todo dia e diz algo a si mesma. E diz isso em cada um de nós. Mas se a vida não é olhada, como vai ser escutada?

Então parar para olhar a si mesmo, é parar pra olhar a vida. Parar para olhar o outro, é parar pra olhar a vida. Porque assim como o outro é você mesmo, você mesmo é a vida.

Será que as coisas estão claras? Porque se não estão, se não mostram as suas caras, se não se fazem claras, talvez ainda não tenhamos acordado pra vida. A vida é simples, justa e humilde. Pode passar despercebida para alguém que está sempre procurando por mais, buscando cada vez mais quando já tem tanto.

A vida é tão simples e delicada, que pode ser comparada a uma flor. Mas como tem a força de um furação, ela leva tudo que encontra pelo caminho. Quem olhar a vida, vai ver que ela está sempre pronta pro agora, seja aqui onde isso for. Porque é na presença que ela nasce e morre. É nessa contínua respiração que ela se faz presente.

Temos uma vida inteira pela frente para olhar a vida. Se não olharmos, não tem problema, a vida é paciente, é a própria paciência, ou a ciência da paz. Quem já parou pra olhar a vida sabe. Sabe que olhou, sabe que viu, e sabe que a paz dela é puro amor.

Mas a gente pára pra olhar a vida?


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