@palivre

segunda-feira, 25 de maio de 2009

divagando por aí #7


A NATUREZA DO AMOR
imagem de autor desconhecido



De onde vem a pequena aranha que encontra descanso entre os livros que repousam entre os vasos de plantas que relaxam em minha casa? Da janela que esteve fechada por uma semana enquanto eu viajava? Da porta que ninguém abriu durante o tempo que estive fora? Do ralo tampado na pia da cozinha ou do ralo vedado debaixo do chuveiro?

A natureza é criada por si mesma. Sem janela, porta, ralo, ela cria outros meios para que a aranha alcance a vida. Mas não é a aranha que alcança a vida, e sim a vida que alcança a aranha. Observe os jarros de planta. Observe os livros. Quem colocou o ovo da aranha ali? Estamos falando do primeiro ovo de aranha. Quem pôs o primeiro ovo de galinha? A gente já sabe que não foi a galinha. Porque a galinha e o ovo não significam nada se não estiverem inseridas num contexto.

Em que contexto o ovo está inserido? É como o mofo que surge e ocupa as cadeiras vazias que seguem sem ser usadas. Quem pôs o mofo aí? Quem pôs o ovo ali? A aranha nasce para satisfazer uma necessidade da natureza. A natureza é autocriativa, autoorganizante, autosubsistente, por isso se expande em tantas formas e se contrai numa forma única, de acordo com sua necessidade de autoexistir. A natureza existe e se empenha em existir. A necessidade da natureza é ser. A natureza desse ser é amar.

Pode ser difícil entender o que o amor tem a ver com a aranha. Mas não estamos aqui para facilitar as coisas, como já percebemos. Cada dificuldade tem sua razão de existir. Assim como cada ovo de aranha tem seu propósito de acontecer. Imagine o ar, o ambiente, a temperatura, a luz, e todas as diversas invisibilidades que nossos sentidos não captam. Imagine todos esses elementos interagindo, coexistindo, interligados uns aos outros pelas redes que os conectam.

As relações entre as formas de natureza dão forma a novas formas de natureza. A pergunta “quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?” tem resposta. O ovo veio primeiro. Mas quem pôs o ovo? O ovo se pôs. Para não dizer: a natureza se criou. Vejamos bem que as aranhas põem ovo, tal qual as galinhas. Mas vejamos também que elas não são as únicas a pôr, afinal se fosse assim, elas nunca teriam sido postas. Para a aranha ser posta aqui a natureza criou o ovo. Para o ovo ser criado existiu uma necessidade da natureza.

Que necessidade da natureza é essa? O que o ovo tem a ver com as plantas, o que a aranha tem a ver com o ambiente, o que a galinha tem a ver com o amor? Precisamos respirar e ter calma se quisermos entender. Na incapacidade de manter o foco centrado e a concentração atenta não há como se entender nada. Esse é o tipo de realidade em que a natureza não tem necessidade de criar ovos.

A aranha nasce para satisfazer uma necessidade da natureza. A natureza está comprometida com a autoexistência. A autotransformação faz parte disso. As mil formas que ela assume também. Digamos que existe ar, existe terra, existe luz, existe água, existem plantas, existe uma certa temperatura, existe uma certa situação, existe uma certa relação: existem ovos. Ovo não é uma palavra nem um conceito. Ovo é a possibilidade de geração de uma nova formação. Cada formação surge para preencher uma lacuna. Cada lacuna surge na medida em que a natureza se movimenta.

O movimento da natureza é parte intrínseca da manutenção de sua unidade indivisível. Sua capacidade de se expandir e contrair, criar e destruir formas, gerar ou extinguir aranhas, está relacionada com sua necessidade de autoorganização. A natureza se autoorganiza e autoconstrói à medida que se movimenta. A vida é a natureza do movimento.

A natureza da vida é a harmonia. A natureza da harmonia é o amor. Mas qual é a natureza do amor? O amor é a própria natureza.


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