@palivre

quinta-feira, 16 de abril de 2009

musinematura #4


DEMIAN : HERMAN HESSE



Vez em quando surge um livro que vira de cabeça pra baixo nossa vida. Depois de ler uma obra assim, a nossa forma de ver o mundo muda por completo. E as coisas, inevitavelmente, deixam de ser as mesmas. Não precisa nem ser um best-seller, basta ser um livro oportuno. Oportuno é aquele tipo de livro que cabe exatamente em nosso agora, que conta detalhadamente a história de nossa própria vida.

“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus. E o deus se chama Abraxas.” Esse trecho é a metáfora base que resume e exemplifica a idéia do livro Demian, do escritor alemão Herman Hesse.

Em Demian, conhecemos a história de um rapaz chamado Sinclair, que vive atormentado pela falta de respostas às perguntas que faz sobre a existência. Ele questiona o bem e o mal, reflete sobre as convenções sociais e levanta discussões sobre o mundo ideal e real. Tudo sob um cenário conservador de uma época envolta de ordens, regras e tradicionalismos. Mas envolvido numa aura de descobertas e experiências fascinantes.

Antes da história começar, um trecho em destaque: “Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente de mim. Por que isso me era tão difícil?” Hesse provavelmente se refere à naturalidade. Mas expressar a natureza com naturalidade não é desafio apenas dele, a humanidade se debruça sobre o mesmo dilema há muito tempo, conscientemente ou não.

E por falar em natureza, essa é uma das temáticas básicas que alimenta as discussões levantadas no decorrer de Demian. Para ilustrar, cai bem mais uma parte: “Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e os livros: começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim.”

O livro fala por si só. Fica difícil lê-lo apenas uma vez. Ele tem tudo pra se tornar uma espécie de livro de consultas. É um daqueles títulos que é bom ter por perto, à disposição, para ler um trecho perdido no meio da história e sentar pra refletir. Herman Hesse não poupa nem um pouco de si mesmo para escrever Demian. O livro é como um retrato muito bem elaborado da fase que ele viveu da sua infância até a juventude.

Mais que um livro, Demian é o registro do homem restabelecendo contato com a divindade interior, com o eu mais profundo. As páginas da história estão cobertas de ensinamentos e mensagens que atestam a intenção do autor de espiritualizar o leitor. “Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho o conduz a si mesmo.”

Ler Hesse é pra poucos. E esses poucos que lêem, no meio de tantas dúvidas que possam ter sobre a verdade e a existência, podem contar com uma certeza: são privilegiados. Herman Hesse é aquele professor que não tivemos no colégio.



Pistorius ensina a Sinclair o caminho para Abraxas

"Afirmaste certa vez - disse me um dia - que a música te agradava por ser totalmente destituída de moralidade. Estás certo. Mas o que importa é que também tu não sejas moralista. Não há por que te comparares com os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos. Meu caro Sinclair, nosso deus se chama Abraxas e é deus e demônio a um só tempo; sintetiza em si o mundo luminoso e obscuro. Abraxas nada tem a opor a qualquer de teus pensamentos e qualquer de teus sonhos. Não te esqueças disso. Mas abandonar-te-á quando chegares a ser normal ou irrepreensível. Abandonar-te-á em busca de outro cadinho onde possa cozer seus pensamentos."


2 comentários:

  1. It's a great blog!
    have a wonderful day! ^^

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  2. caro,
    cheguei aqui pesquisando sobre hesse...
    li sseu artigo e concrdo plemnamente: li hesse na juventude e justamente o primeiro que li foi
    o demian e depois, todos os oujtros: narciso e goldmundo, diarta, o lobo da estepe, etc.
    hesse, e no caso demina, mudou minha concepção de vida, lá pelos vinte anos...mudanaça radical.
    abraços
    Danilo- Brasilia- Brasil

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