@palivre

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

musinematura #3


BACK TO BLACK : AMY WINEHOUSE



Um chute no pau da barraca. Se for para resumir a música de Back To Black, é isso que vamos dizer. Um grito numa rua vazia, um corpo se debatendo no chão, um copo quebrado no bar, um não bem entoado para todos escutarem. Qualquer expressão bem honesta e fiel de uma situação de caoticidade plena. Mas tudo imerso num contexto sonoro de extrema harmonia. O retrato perfeito de um sujeito sob efeito da arte, expondo suas inerências em um cenário musical.

Não comparem a música de Amy Winehouse com nenhuma outra. Por mais que suas influências sejam referências, ela criou seu próprio estilo. Back To Black é uma mistura complexa, emaranhada e densa de problemas mal-resolvidos, aprendizados, frustrações, alegrias, desilusões, descobertas e traumas que começaram antes mesmo de Amy imaginar que a música nasceu para ela. Parece que a vida da pequena Amy foi uma fábula conturbada no reino da confusão.

Mas Amy não se deixou abalar por nada isso. Tal qual todo artista que se preze, tudo que ela viveu serviu para engrossar o seu caldo. O caldo é aquele amontoado formado por todos os tipos de experiências, percepções e sentimentos possibilitados pela vida. Juntando todos esses momentos ela compôs a sua obra. Em Back To Black sobra talento, vigor, sagacidade e verdade. Com uma boa dose de independência, rebeldia, liberdade e força.

Nada no disco parece falso. As músicas são como variações sobre o mesmo tema. O tema é como uma compilação de muitas músicas. A faixa título do disco merece destaque especial. Back To Black é uma canção forte, uma balada atraente, muito bem embalada, categoricamente dançante e cintilante desde a primeira a nota. “Nós só dizemos tchau com palavras”, é uma das pérolas que podemos encontrar no miolo dela.

O disco é praticamente uma obra-prima. Dentro do que se propõe, é claro. O mundo da música é cheio de veias. Numa delas jorra Amy Winehouse. Que não abre mão do nome que tem e faz valer cada letra que canta. Dizem as noitícias* que ela já passou por duas overdoses. A primeira por cocaína, heroína, ecstasy, e crystal meth. E a segunda por crystal meth e trinta e seis horas de maconha. Dizem. O vinho está implícito. Dizem.

Nenhuma faixa merece ficar de fora: Rehab, You Know I’m No Good, Me and Mr Jones, Just Friends, Back To Black, Love Is A Losing Game, Tears Dry On Their Own, Wake Up Alone, Some Unholy War, He Can Only Hold Her e Addicted. Cada uma com uma roupa diferente, vestindo a nudez que por baixo delas é uma só.

Black To Black é um disco pra quem não tem nada a perder. Porque foi feito pra quem vive num tempo onde nada se perde, mas sim se transforma. Neste disco Amy Winehouse transformou poesia em música. É de arrepiar. E escutar repetidamente.

Eleja suas faixas e aproveite o presente. Back To Black é a prova de que a música continua viva como sempre, seguindo sua trajetória mutante e transmigrando de corpos em corpos incessantemente, elevando, revelando artistas, e gerando o fenômeno que chamamos de estrelas. Amy Winehouse faz parte de uma constelação musical muito importante. A astrologia explica a relevância dela.

* Noitícia [Do bra. noite + notícia] S.f. 1. Notícias obscuras, diretamente da calada da noite preta, das entranhas midiáticas do planeta, do fundo mais profundo do mundo do jornalismo comprado, da informação duvidosa e do argumento tendencioso.



Some Unholy War // Back To Black


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