@palivre

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

assim como se nada #7


QUEM SEPAROU AS PALAVRAS?
imagem de tiago mesquita



Resolvi te escrever de novo. Não sei bem porque. Talvez a vontade de falar com alguém. Não com alguém qualquer, que aí seria um ninguém. Vontade de falar com alguém interessante. Não qualquer alguém interessante, que aí seria um interesse qualquer. Vontade de falar com alguém mais próximo das minhas ilusões.

Não sei se você sabe, acho que em partes sim, mas você é uma delas. Observo à distância e admiro a forma que você toca as palavras, e como isso reflete em mim. Observo que admiro a distância. Observo que admiro o espaço. Não faço isso por gana, nem por sexo. Também não vou dizer que é por amor, só amor por si só, como se não fôssemos ainda egoístas, orgulhosos, rancorosos, entre outros limitadores.

Num mundo onde não há só amor, o que estou sendo contigo é um pouco de cada coisa que eu sou. E eu não sou só amor nesse mundo. Mas se estamos num mundo onde tudo é amor, isso que eu sou agora contigo também é. Num mundo onde o significado da palavra amor não seja rosa e nem romance de novela, isso que eu sou é muito mais.

Dentro desse mais eu falo em ilusão. A minha imaginação não é ótima? Minha capacidade de construir realidades? De me reinventar, reintitular, recriar? Sei que ela é fértil o suficiente para brotar muito. Como, por exemplo, nós dois.

Nós dois estamos juntos sem estar. Porque aqui estou só, e mesmo assim tenho algo a dizer pra você. Eu falo pra você como se você estivesse me escutando. Eu falo como se você quisesse me escutar. E como se tudo que tivéssemos a fazer fosse só isso: escutar nossas próprias palavras.

E isso é ilusão. Eu não sou bom nisso? Creio que sou um grande iludido. Ou seria um ilusionista, me iludindo com as ilusões que crio? E também um alucinado. Mas sobre esse a gente fala outra hora. Sou iludido pelo simples fato de que crio minhas realidades.

É uma ilusão achar que agora estou só, só porque aparentemente estou só. Ou que estou acompanhado de você, só porque teoricamente estamos conversando. Ou que você realmente quer me escutar mais do que as outras pessoas escutariam, só porque está me escutando.

É ilusão porque a distância das coisas permite que a imaginação faça o papel principal. É ilusão porque das letras à realidade é um salto estupidamente quântico. É ilusão não porque as palavras não existem, mas sim porque são apenas uma parte da existência.

Eu creio que tudo isso que alimento e gosto e quero e espero e penso e esqueço não passa de ilusão. Essa ilusão é muito real pra mim. Eu acordo dentro dela. Eu durmo com ela.

Não sei quem foi que separou as palavras. Vou me dar o trabalho de juntá-las novamente. É ilusão pensar que vou conseguir. Mas não vou negar que essa é minha realidade.


4 comentários:

  1. quando falta ar, sobra lembrança de tu...

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  2. cara tenho certeza que você já conhece, mas se puder da uma força pro movimento liberte um livro. se tu quiser mando um selo e um marca páginas personalizado.

    entrerios.wordpress.com

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  3. se a destinatária teve sorte, não sei não
    não é bem certo
    nada é de todo errado
    ela anda sem chão
    e
    ou resposta
    em vão
    o sim aparenta grande não
    o sol já há muito
    parou de bater no portão
    se tudo foi destino
    na mudança
    a destinatária caiu do caminhão
    .

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