@palivre

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

divagando por aí #1


DESSOCIALIZANDO EU POSSO SOCIALIZAR
imagem de autor desconhecido



Muito de negativo tem se falado a respeito da dessocialização, sendo comum escutar coisas depreciativas sobre ela e seus simpatizantes. Enquanto isso, do outro lado da moeda, a socialização continua a ser tratada pela maioria como um bem indiscutível, a solução perfeita, o indispensável para todos.

Como ter certeza de que esse socializar imposto é realmente o melhor? Quem vai provar que um modelo único de se relacionar e viver seja o ideal? Às vezes chega a parecer que essa socialização forçada é uma das maiores culpadas pelos conflitos existentes. O homem é diferente por natureza. Ele não nasceu para ser igual. Para conviver ele pode até adotar costumes parecidos, mas nunca abdicar de seus propósitos natos.

A socialização deveria ser apenas uma ferramenta para facilitar nossa vida e não uma busca incessante pelo politicamente idiota ou alienadamente correto. Descredibilizar a dessocialização e os dessocializáveis parece ser uma das principais estratégias da máquina uniformizadora, que almeja acima de tudo uma sociedade organizadamente medíocre e singularmente manipulável. E para instaurá-la, nada tão eficiente quanto forçar todos a adotarem o mesmo comportamento.

Entretanto, essa tentativa ditatorial de homogeneizar o mundo humano, camuflada de avanço social, que nunca busca o verdadeiro bem comum, é de fato um esforço nulo: a dessocialização jamais deixará de existir. Ao que parece, mais do que qualquer coisa, ela se apresenta como uma proteção individual, uma possibilidade de preservação das idiossincrasias.

Essa dessocialização pode ser encarada como uma proteção instintiva e auto-conservatória, e não um distúrbio ultrajante e inaceitável como é bastante vista hoje em dia. O comportamento dessocializador é também um comportamento pró-neo-social, no sentido da vontade de formação da próxima nova sociedade, compatível com as necessidades de cada sujeito e não somente com as da maioria.

A fuga da sociedade atual nasce das diferenças naturais e da inadequação: nem o indivíduo se ajusta à sociedade nem a sociedade se ajusta ao indivíduo. Sendo assim, para os indispostos a embates e confrontos mais diretos, a dessocialização pode se apresentar como o caminho mais fácil ou mais útil. Não que seja uma solução ou deva ser adotada como prática, mas o afastamento do que é considerado sociável, nesta sociedade em que estamos inseridos, pode sim gerar novos frutos, com diferenças significativas. E que do contrário, certamente nunca seriam gerados.

Além de tudo, a existência, na teoria, é livre, e cada um tem o direito de definir sua prática e agir como preferir. Adotar um comportamento dessocializante é apenas mais uma opção. Tal ato pode ser creditado a uma série de motivos. Um repúdio de viver num contexto imposto pelo sistema e exposto pelas pessoas que inevitavelmente nos cercam, por exemplo. Um asco gerado pela maneira que os humanos se relacionam e pelos valores que insistem em manter. Um desprezo pela insensibilidade alheia diante das simplicidades da vida. Um abuso frente à impassibilidade dominante. Ou, até mesmo, um cansaço das injustiças, ironias, decepções, fofocas, intrigas e outras realidades deploráveis, que se manifestam e proliferam incessantemente à medida que a sociedade cresce irracionalmente.

A dessocialização então seria muito além do que uma simples atitude de rebeldia, seria um instrumento criado para se atingir uma socialização mais positiva. Onde toda a natureza esteja de fato incluída, e as divergências, marcas da pluralidade, sejam incorporadas, respeitadas e tidas como divinas e fundamentais para um futuro socialmente conveniente. E provavelmente utópico.


2 comentários:

  1. Acho que é a mesma questão das pessoas não saberem que são capazes de tudo. inclusive eu.

    ResponderExcluir
  2. Acredito que para existir-se num coletivo é imprescindível existir-se inicialmente no ser individual...a troca acontece primeiro entre os vários "eus" que somos para em seguida "contribuir" com o todo.Se assim desejar-se.
    Sabendo que, socializar-se pode ser apenas essa troca plena entre si mesmo.

    ResponderExcluir


Creative Commons License